O
conhecimento matemático torna-se cada vez mais importante para os indivíduos,
no sentido de poder envolver um maior número de possibilidades profissionais.
Neste
sentido, para se prepararem para a mobilidade, os alunos devem desenvolver uma
profunda compreensão dos conceitos e princípios matemáticos, têm de raciocinar
claramente e de modo eficaz e devem ainda reconhecer aplicações matemáticas, no
mundo que os rodeia. Os alunos irão recorrer a necessidades básicas que lhes
permitam aplicar os seus conhecimentos a novas situações e controlar a própria
aprendizagem, ao longo da vida. Assim, a resolução crítica de problemas e a
comunicação eficiente assumem cada vez mais importância.
Contudo,
estas aquisições não estão, do mesmo modo, ao alcance de todos. Há crianças que
não atingem formas abstratas de compreensão e/ou não têm
possibilidades de
aceder às principais problemáticas curriculares, nesta área. Fazem parte deste
grande grupo as crianças com Discalculia que “não conseguem compreender os princípios
e processos matemáticos” (Johnson e Myklebust, 1991, cit. in
Cruz, 1999, p. 209).
Antes
de entrarem para o primeiro ciclo, as crianças vivem muitas experiências que
envolvem o conceito intuitivo e as relações numéricas. É com base nestas
experiências que a criança vai construindo o seu sentido de número. “ A
experiência provocando a formação de estímulos mentais, vai implicar a
planificação e a expressão de ideias muito antes de atingir a noção de número
(…) a partir de manipulações práticas.” (Fonseca, 1984, p. 54)
Fonseca
(1984, p. 254) a este propósito afirma que “a
matemática envolve, portanto, estruturas e relações que devem emergir de
experiências concretas. As tarefas da aprendizagem da matemática envolvem
inúmeras componentes que têm a sua raiz na hierarquia da experiência e nos
estádios de desenvolvimento psicomotor e do pensamento quantitativo”.
Citoler
(1996, cit. in Cruz, p. 209) afirma que “a
discalculia é o termo que se refere às dificuldades de aprendizagem específicas
na matemática, sem que estejam presentes outros problemas e que surgem como
disfunções do sistema nervoso central.”
Kosc
(1994 cit. in Deaño 1998, p. 182, 183) elaborou uma classificação com seis
tipos de discalculia, sugerindo que estes podem ocorrer isoladamente ou em combinação.
Os tipos propostos são:
·
Discalculia verbal – dificuldade para nomear as quantidades
matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações matemáticas;
·
Discalculia pratognósica – dificuldade na enumeração, comparação e
manipulação de objetos matemáticos reais ou imaginários;
·
Discalculia léxica – dificuldades em ler símbolos matemáticos;
·
Discalculia gráfica – dificuldades em escrever símbolos
matemáticos, a criança não é capaz de copiar números ou escrever números
ditados;
·
Discalculia ideognósica – dificuldades na compreensão de conceitos
matemáticos, bem como fazer cálculos mentais;
·
Discalculia operacional – dificuldades na realização de operações
matemáticas.
De
seguida, apresentamos um quadro exemplificativo das aptidões esperadas e as
dificuldades causadas pela discalculia, de acordo com a respetiva faixa etária:
Faixa
etária
|
Aptidões
esperadas
|
Dificuldades
|
dos
3 aos 6 anos
|
ü
Ter
compreensão dos conceitos igual e diferente, curto e longo, grande e pequeno,
menos que e mais que;
ü Classificar objetos pelo tamanho,
cor e forma;
ü
Reconhecer
os números de 0 a 9 e contar até 10;
ü Nomear formas; e
ü Reproduzir formas e figuras.
|
ü
Problemas
em nomear quantidades matemáticas, números, termos e símbolos;
ü
Insucesso
ao enumerar, comparar, manipular objetos reais ou em imagens.
|
dos
6 aos 12 anos
|
ü Agrupar objetos de 10 em 10;
ü Ler e escrever de 0 a 99;
ü Nomear o valor do dinheiro;
ü Dizer as horas;
ü
Realizar
operações matemáticas como a soma e a subtração;
ü
Começar
a usar mapas;
ü
Compreender
metades, quartas partes e números ordinais.
|
ü Leitura e escrita incorreta dos
símbolos matemáticos.
|
dos
12 aos 16 anos
|
ü Capacidade para usar números na via
quotidiana;
ü Uso de calculadoras;
ü
Leitura
de quadros, gráficos e mapas;
ü
Entendimento
do conceito de probabilidade;
ü
Desenvolvimento
de problemas.
|
ü
Falta
de compreensão dos conceitos matemáticos;
ü Dificuldade na execução mental e
concreta de cálculos numéricos.
|
Fonte:
http://crescer.globo.com/edic/ed77/rep_discalculia.htm
Devemos
estar conscientes que, no tratamento de dificuldades de aprendizagem,
nomeadamente a discalculia, estas não deverão ser vistas como problemas
insolúveis mas, antes disso, como desafios que fazem parte do próprio processo
de aprendizagem (Bonalds, 1998).
Referências bibliográficas
BONALDS, J.
(1998). Aprendizage de la Escritura, Madrid: Publicaciones ICE.
CITOLER, S.
D. (1996). Las dificultades de
Aprendizage: Un Enfoque Cognitivo – Lectura, Escritura, Matemática, Málaga:
Ediciones Aljibe, pp. 181-212.
CRUZ, V.
(1999). Dificuldades de Aprendizagem,
Fundamentos, Porto: Porto Editora, pp. 194-215.
DEAÑO, M.
(1998). El fracaso en le aprendizage
escolar II. “Dificuldades específicas de tipo neurológico”, Málaga: Aljibe,
pp. 159-258.
FONSECA, V.
(1984). Uma Introdução às dificuldades de
Aprendizagem, Lisboa: Editorial Notícias.
JOHNSON, D.
J. & MYKLEBUST, H. R. (1991). Distúrbios
de Aprendizagem – Princípios e Práticas Educacionais. São Paulo: Livraria Pioneira Editora.
http://crescer.globo.com/edic/ed77/rep_discalculia.htm
Sónia Pinho
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